quarta-feira, 7 de novembro de 2007

ONU ouve relato de 20 execuções

O relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre execuções arbitrárias, sumárias ou extrajudiciais, o australiano Philip Alston, já começou a ouvir sobreviventes de chacinas supostamente praticadas por policiais civis e militares e familiares de pessoas mortas durante a onda de ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, entre 12 e 20 de maio de 2006.

Até o dia 14, Alston visita São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Brasília. O objetivo é produzir um relatório sobre os direitos humanos no país e apresentá-lo no Conselho dos Direitos Humanos da ONU. Ele não pretende falar com a imprensa até o fim da viagem. "Não quero emitir uma idéia preconcebida, antes de me encontrar com representantes da sociedade civil, grupos de parentes de vítimas e entidades que representam o governo", explicou o relator, citando o filme Tropa de elite como exemplo da repercussão que o tema provoca.

Durante três horas, o representante das Nações Unidas ouviu os relatos e colheu documentação de 20 pessoas, entre sobreviventes e famíliares de vítimas. Todos apontaram policiais militares como autores dos assassinatos. Para comprovar isso, levaram documentação, como laudos médicos que indicam que os mortos foram executados e não atingidos em troca de tiros ou por oferecer resistência, como foram registradas essas ocorrências. "Alguém precisava ouvir o que a gente precisava contar, porque até agora nada foi resolvido", disse a mãe de uma vítima, que pediu para que não fosse identificada.

Casal
Um dos casos envolveu um casal, com a mulher grávida de 9 meses e cesariana marcada. Os dois foram executados ao ir comprar leite para outra filha, então com 2 anos de idade. "É minha última esperança, porque até agora não fizeram nada, arquivaram o caso", reclamou a mãe de uma das vítimas. "Espero que sirva de alerta, alguma providência tem de ser tomada. O Brasil tem de mostrar o que ele quer da ONU e o que ele tem para oferecer", disse a presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), de São Paulo, Rose Nogueira, referindo-se à cadeira permanente pleiteada pelo governo brasileiro.

Nos últimos meses, a ONU vem enviando pedidos de explicação ao governo brasileiro sobre assassinatos e suspeitas de envolvimento de agentes de segurança pública. Mas nem todas as solicitações são respondidas. Na organização, os especialistas não escondem a preocupação com o volume de homicídios no país e, principalmente, com o fato de muitos crimes permanecerem impunes. Ontem, Alston se encontrou com o secretário de Segurança de São Paulo, Ronaldo Marzagão. Mais cedo, ele esteve com o secretário Especial Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, e com entidades de direitos humanos.

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