Usando a "franqueza e a humildade" que considera necessárias para lidar com o problema, o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, reconhece que o relatório da ONU que apontou abusos graves no Brasil, como tortura e racismo, reflete a realidade do país.
Apesar de achar que alguns trechos do relatório exageram no tom, Vannuchi considerou a análise da ONU "justa e precisa", além de ser uma contribuição "valiosíssima" para a discussão dos direitos humanos no Brasil. Na semana passada, as Nações Unidas divulgaram dossiê sobre o país em que relata casos persistentes de tortura policial, racismo e corrupção no Judiciário, entre outros.
No discurso que pronunciou ontem na abertura da 7ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, o ministro lembrou os êxitos do governo na luta contra a pobreza, mas admitiu que violações de direitos humanos "ainda são registradas em áreas como segurança pública, sistema carcerário, violência no campo e muitas outras".
Após reconhecer que a violência policial é grave no país, Vannuchi surpreendeu ao defender o filme "Tropa de Elite" das acusações de que faz apologia da tortura e de ser fascista. "Eu não faria um filme igual, mas acho que ele contribui para a discussão do maior problema do Brasil hoje, que é o da segurança pública", disse. "Fascista é o filme que só apresenta um lado da questão. "Tropa de Elite" mostra plenamente as contradições do debate."
Vannuchi disse que a preocupação do governo com os direitos humanos pode ser comprovada com o extenso calendário de atividades programadas para 2008, "muito maior que nossas pernas", admitiu. Entre elas está a organização do encontro mundial contra a exploração sexual infantil e da primeira conferência nacional GLBT (gays, lésbicas, travestis, bissexuais e transexuais).
Segundo o ministro, há no governo federal "um amplo apoio" à idéia de uma lei que permita a união civil de homossexuais e lhes garanta direitos. "Atualmente a mesma família que expulsa de casa um filho por não aceitar sua condição de homossexual é a que fica com seus bens quando ele morre, pois não há lei que garanta o direito de seus parceiros", disse.
Vannuchi também concorda com a ONU nas críticas ao Judiciário, reconhecendo que há muitos juízes despreparados, que não conhecem a lei ou são contaminados pelos preconceitos que deveriam combater.
segunda-feira, 10 de março de 2008
Dossiê da ONU sobre tortura é "preciso", afirma Vannuchi
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MARCELO NINIO
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